11 dezembro 2005

Ensino a Distância - Em torno do conceito

· Educação a distância é uma relação de diálogo, estrutura e autonomia que requer meios técnicos para mediatizar esta comunicação. Educação a distância é um subconjunto de todos os programas educacionais caracterizados por: grande estrutura, baixo diálogo e grande distância transacional. Ela inclui também a aprendizagem (MOORE, 1990)


· Educação a distância se refere àquelas formas de aprendizagem organizada, baseadas na separação física entre os aprendentes e os que estão envolvidos na organização de sua aprendizagem. Esta separação pode aplicar-se a todo o processo de aprendizagem ou apenas a certos estágios ou elementos deste processo. Podem estar envolvidos estudos presenciais e privados, mas sua função será suplementar ou reforçar a interação predominantemente a distância (MALCOM TIGHT,1998)

· Educação a distância é um método de transmitir conhecimento, competências e atitudes que é racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e de divisão do trabalho, bem como pelo uso intensivo de meios técnicos, especialmente com o objectivo de reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um maior número de estudantes, ao mesmo tempo, onde quer que eles vivam. É uma forma industrializada de ensino e aprendizagem (PETERS, 1973)


(…) O parâmetro comum a todas elas [definições] é a distância, entendida em termos de espaço. A separação entre professores e alunos no tempo não é explicitada, justamente porque esta separação é considerada a partir do parâmetro da contiguidade da sala de aula que inclui a simultaneidade. (…) A separação no tempo – comunicação diferida – talvez seja mais importante, no processo de ensino aprendizagem a distância, do que a não-contiguidade espacial.

Belloni, Maria Luiza. (2001[199]) Educação a distância. São Paulo: Autores Associados, 26-27.



Fala-se, freqüentemente, em Ensino a Distância e Educação a Distância como se fossem sinônimos, expressando um processo de ensino-aprendizagem. Ensino representa instrução, socialização de informação, aprendizagem, etc., enquanto Educação é “estratégia básica de formação humana, aprender a aprender, saber pensar, criar, inovar, construir conhecimento, participar, etc.” (MAROTO, 1995). É nesta segunda acepção que pretendemos discutir o significado e as dimensões que abarcam a EAD.

São elementos constitutivos da Educação a Distância:
* a “distância” física professor-aluno: a presença física do professor ou do autor, isto é do interlocutor, da pessoa com quem o estudante vai dialogar não é necessária e indispensável para que se dê a aprendizagem. Ela se dá de outra maneira, “virtualmente”;
* de estudo individualizado e independente: reconhece-se a capacidade do estudante de construir seu caminho, seu conhecimento por ele mesmo, de se tornar autodidata, ator e autor de suas práticas e reflexões;
* um processo de ensino-aprendizagem mediatizado: a EAD deve oferecer suportes e estruturar um sistema que viabilizem e incentivem a autônomia dos estudantes nos processos de aprendizagem. E isso acontece “predominantemente através do tratamento dado aos conteúdos e formas de expressão mediatizados pelos materiais didáticos, meios tecnológicos, sistema de tutoria e de avaliação” (MAROTO, 1995);
* o uso de tecnologias: os recursos técnicos de comunicação, que hoje têm alcançado um avanço espetacular (correio, rádio, TV, audiocassette, hipermídia interativa, Internet), permitem romper com as barreiras das distâncias, das dificuldades de acesso à educação e dos problemas de aprendizagem por parte dos alunos que estudam individualmente, mas não isolados e sozinhos. Oferecem possibilidades de se estimular e motivar o estudante, de armazenamento e divulgação de dados, de acesso às informações mais distantes e com uma rapidez incrível;
* a comunicação bidirecional: o estudante não é mero receptor de informações, de mensagens; apesar da distância, busca-se estabelecer relações dialogais, criativas, críticas e participativas.

São suas características:
* a abertura: uma diversidade e amplitude de oferta de cursos, com a eliminação do maior número de barreira e requisitos de acesso, atendendo a uma população numerosa e dispersa, com níveis e estilos de aprendizagem diferenciados, para atender à complexidade da sociedade moderna;
* a flexibilidade: de espaço, de assistência e tempo, de ritmos de aprendizagem, com distintos itinerários formativos que permitam diferentes entradas e saídas e a combinação trabalho/estudo/família, favorecendo, assim, a permanência em seu entorno familiar e laboral;
* a adaptação: atendendo às características psicopedagógicas de alunos que são adultos;
* a eficácia: o estudante, estimulado a se tornar sujeito de sua aprendizagem, a aplicar o que está apreendendo e a se autoavaliar, recebe um suporte pedagógico, administrativo, cognitivo e afetivo, através da integração dos meios e uma comunicação bidirecional;
* a formação permanente: há uma grande demanda, no campo profissional e pessoal, para dar continuidade à formação recebida “formalmente” e adquirir novas atitudes, valores, interesses, etc.
* a economia: evita o deslocamento, o abandono do local de trabalho, a formação de pequenas turmas e permite uma economia de escala.

Preti, Oreste. Educação a Distância: uma prática educativa mediadora e mediatizada, disponível em 10/12/2005 no URL: http://www.nead.ufmt.br/pesquisa/


No entanto, (…) uma grande parte desses cursos [de graduação e de pós-graduação no território brasileiro] é estruturada a partir de uma concepção tradicional de educação (muitas vezes velada sob uma roupagem mais avançada), em que o objetivo final do processo de aprendizagem é apenas a reprodução de um conhecimento já estabelecido, propiciando poucas condições efetivas para uma construção do conhecimento mais criativa, a ser realizada pelos sujeitos dessa prática educativa. Reproduz-se, dessa forma, um modelo pedagógico já saturado, impedindo a exploração dos potenciais trazidos pelas estruturas de comunicação em rede. Os cursos on-line tornam-se, assim, espelhos daquilo que há de pior no ensino presencial de hoje, com o agravante de estarem sendo apresentados para a população como uma das grandes inovações educacionais dos últimos tempos.
Nova, Cristiane & Alves, Lynn. Tempo, Espaço e Sujeitos da Educação à Distância, versão electrónica disponível em 10/12/2005 no URL: http://www.lynn.pro.br/pdf/livro_tempoespaco.pdf de um texto publicado in Internet e educação a distância.1 ed.Salvador : Edufba, 2002, v.1, pp. 41-55.


O termo ensino a distância já é utilizado em Educação há pelo menos um século. Refere-se ao modo de ensino onde aprendizes e professor não estão simultaneamente em um mesmo lugar.
Com o advento da Internet, o ensino através da rede mundial de computadores passou a ser considerado como uma forma de educação a distância. O protocolo de comunicação www (world wide web) é atualmente um padrão para plataformas de ensino a distância via web. Através de um navegador, todo um sistema de referências se torna disponível, permitindo o acesso a conteúdos e a materiais de avaliação.
Há uma tendência de desenvolver ambientes de ensino a distância implementados em formato de páginas de hipertexto. Cada página pode conter objetos de diferentes formatos, mas o que predomina ainda é o formato texto. Textos, imagens, objetos audíveis e imagens animadas podem enriquecer o material de trabalho. Os modos de operação podem ser de dois tipos: síncrono ou assíncrono. No modo síncrono predomina os encontros através do chat, uma forma de interlocução baseada em texto, onde os aprendizes e o professor participam de discussões, conectados à rede, mas em lugares distintos. As outras formas são: videoconferência e teleconferência. Na videoconferência as pessoas recebem imagem e voz, na teleconferência apenas a voz é transmitida, com ou sem intermediação da Internet.
Silva, José Carlos Tavares da & Fernandes, José Rodrigues (2005). Avaliação de Aprendizagem em Ambientes de Ensino a Distância Baseados na Web: Perspectivas, in Paulo Dias e Cândido Varela de Freitas (orgs.), Desafios/Challenges 2005 - Actas da IV Conferência Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação, Braga: Centro de Competência Nónio Século XXI da Universidade do Minho, 355.